sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Demora na distribuição de ajuda pós-tremor frustra haitianos



Os esforços de resgate e ajuda humanitária no Haiti estão sofrendo com dificuldades logísticas e com os danos à infraestrutura local, quase três dias após o forte terremoto que provocou devastação no país.

Segundo os correspondentes da BBC em Porto Príncipe, muitos feridos estão morrendo por conta de problemas facilmente tratáveis, como fraturas, e a paciência demonstrada pelos haitianos logo após o terremoto está dando lugar à angústia e à raiva pela demora na chegada de ajuda.

A ajuda humanitária vem chegando de várias partes do mundo, mas há poucos sinais de distribuição além da área do aeroporto.

Muitos haitianos passaram a terceira noite seguida ao ar livre, na madrugada desta sexta-feira, sem abrigo ou em campos improvisados na capital devastada, Porto Príncipe.

A Cruz Vermelha Internacional estima que entre 45 mil e 50 mil pessoas morreram em consequência do terremoto da terça-feira.

Segundo a organização, até 3 milhões de pessoas foram afetadas pelo tremor.

Na noite de quinta-feira, o presidente do Haiti, René Préval, disse que 7 mil corpos já foram enterrados em valas comuns.

Corrida contra o tempo

Organizações internacionais de ajuda humanitária dizem que a situação agora no Haiti é de uma corrida contra o tempo para atender aos feridos e localizar possíveis sobreviventes presos debaixo dos escombros.

O coordenador de ajuda de emergência das Nações Unidas no Haiti, John Holmes, afirmou que a infraestrutura que resistiu ao tremor está sobrecarregada e dificulta os trabalhos de resgate.

Segundo o porta-voz da força de paz da ONU no país, David Wimhurst, está crescendo a impaciência entre os haitianos pela demora na chegada de ajuda.

"Eles querem que nós os ajudemos, o que é, claro, o que queremos fazer", afirmou.

Segundo ele, os haitianos veem veículos da ONU patrulhando as ruas para manter a calma, e não provendo ajuda, e "estão pouco a pouco ficando mais bravos e impacientes".

Ruas bloqueadas

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu um grande pacote de ajuda, mas advertiu que isso pode levar tempo para chegar à população em geral do país.

Na quinta-feira, a França anunciou a organização de uma conferência internacional para a reconstrução do Haiti, com a ajuda dos Estados Unidos, do Brasil e do Canadá.

Mas nas ruas de Porto Príncipe, há ainda poucos sinais de qualquer esforço coordenado de ajuda.

Aviões faziam fila para pousar no aeroporto da capital, enquanto o principal porto haitiano ficou muito danificado para ser usado. Muitas ruas estão bloqueadas por escombros.

Corpos se acumulam nas ruas e escavadeiras são usadas para retirar os mortos, em meio a relatos de uma crescente frustração da população pela falta de assistência.

"Ouvimos no rádio que equipes de resgate estão chegando do exterior, mas nada está chegando até nós", reclama Jean-Baptiste Lafontin Wilfried, morador de Porto Príncipe. "Temos apenas nós mesmos para cuidar dos sobreviventes", disse.

Equipes de resgate

Em um pronunciamento em Washington na quinta-feira, Obama disse que equipes de resgate americanas já estavam trabalhado no Haiti e que outras estavam a caminho.

Ele prometeu ao Haiti "cada elemento de nossa capacidade nacional, de nossa diplomacia, de nossa assistência ao desenvolvimento, o poder de nossas forças militares e, mais importante, a compaixão de nosso país".

"Às pessoas do Haiti, dizemos claramente e com convicção, vocês não serão abandonados, não serão esquecidos", afirmou.

Obama também prometeu o envio imediato de US$ 100 milhões em ajuda humanitária para o Haiti e disse que o montante cresceria ao longo do ano para ajudar nos esforços de reconstrução do país.

O Banco Mundial também anunciou o envio de US$ 100 milhões em ajuda emergencial, enquanto que o Programa Mundial de Alimentos da ONU está organizando o envio de 15 mil toneladas de alimento.


Por BBC, BBC Brasil

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